“No Brasil, ninguém leu Marx, mas todo mundo tem certeza absoluta sobre ele. É quase religião.”
1/
Um dia, no 2º ano, um aluno me disse, com a convicção de quem nunca abriu um livro:
— Professora, Karl Marx era um dos anticristos!
Eu respirei tão fundo que quase encontrei Nietzsche no caminho.
2/
Perguntei:
— Por que você acha isso?
E ele respondeu, com a segurança que só o WhatsApp da tia consegue dar:
— Porque ele era vagabundo e vivia sugando o amigo rico, o tal do Engels.
Olhei pra ele como quem olha pra uma obra de arte… moderna.
Sem entendimento, mas com curiosidade.
3/
Então fiz o que a educação faz: contei a história.
Porque, como dizia Walter Benjamin:
“Quem controla o passado controla o futuro.”
E no Brasil, tem muita gente controlando o passado pela ignorância.
4/
Disse a ele:
👉 “Karl Marx não era vagabundo. Ele era jornalista, economista, filósofo e estudioso compulsivo.
Escrevia até 16h por dia.”
Marx vivia pobre não por preguiça, mas porque dedicou a vida inteira a estudar o capitalismo, e o capitalismo dedicou a vida inteira a não lhe pagar nada.
5/
Sim, Engels o ajudava financeiramente.
Sabe por quê?
Porque Engels era filho da burguesia e trabalhava em fábrica têxtil.
Ele via crianças de 6 anos mutiladas por máquinas, mulheres desmaiando de fome e homens morrendo de exaustão.
Engels escreveu:
“A classe trabalhadora vive em condições indescritíveis de miséria e degradação.”
(A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, 1845)
6/
Expliquei ao aluno que, naquela época, não existiam direitos trabalhistas.
Nem salário mínimo.
Nem descanso.
Nem férias.
Nem infância.
E as jornadas?
👉 14h a 17h por dia.
Em fábricas fechadas, úmidas, sem ar, sem salário digno.
Crianças eram escravizadas legalmente.
E alguém ainda tem coragem de perguntar por que Marx criticou o capitalismo?
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7/
Marx percebeu que aquilo não era vida.
Não era progresso.
Não era liberdade.
Era exploração pura.
Por isso ele escreveu:
“O trabalhador se torna mais pobre quanto mais riqueza produz.”
(Manuscritos Econômico-Filosóficos, 1844)
8/
Disse ao aluno:
👉 “Marx não queria tomar a sua casa. Ele sequer tinha uma.”
Ele queria que o trabalhador fosse tratado como ser humano, não como peça de máquina.
E que o lucro não fosse mais importante que vidas.
Só isso.
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Nada demoníaco nisso, muito pelo contrário.
9/
Expliquei que o capitalismo do século XIX é o avô do capitalismo atual:
👉 Desigualdades absurdas
👉 Lucro acima da vida
👉 Jornadas desumanas
👉 Infância perdida
👉 Miséria ao lado da riqueza
👉 Trabalhadores descartáveis
Mudou a embalagem, mas não a lógica.
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E por que Marx dizia que os ricos jamais aceitariam mudanças profundas?
Porque ele observou o que está escrito no Manifesto Comunista:
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“A história de todas as sociedades até hoje é a história da luta de classes.”
Quem tem poder, não quer dividir.
Quem lucra com desigualdade, não quer igualdade.
Simples.
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Concluí dizendo ao aluno:
👉 “Você pode discordar de Marx. É seu direito. Mas discorde com conhecimento, não com corrente de WhatsApp.”
Ele ficou em silêncio.
Silêncio de quem está pensando, e pensar é revolucionário.
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Enquanto isso, na sala dos professores:
👉 “Menina, tive que explicar que Marx não era um Pokémon maligno.”
👉 “E que Nietzsche não é marca de perfume.”
👉 “Humanas precisa ser tombada como patrimônio da resistência.”
E todos caíram na gargalhada, afinal, melhor rir do que chorar, né?!
Deixa p chorar quando o salário cair na conta e alguns boletos não serem pagos.
E para finalizar:
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O ponto é:
O medo de Marx nasce da falta de leitura.
A demonização nasce da falta de estudo.
E a ignorância nasce da falta de escola valorizada.
E é por isso que dou aula:
Para que meus alunos conheçam o mundo antes que o mundo os engula.
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“O problema nunca foi Marx.
O problema é um país que tem medo de quem pensa, e devoção a quem não lê.”
@fernandamendesstylist no thread






